Fonte: Blog da Lúcia Hippolito - www.blogdalucia.com.br
Os escândalos que vêm jorrando do Senado Federal são velhos conhecidos, em que pesem as poses falsamente escandalizadas de alguns parlamentares.
É verdade que em nenhum lugar do mundo a classe política é composta apenas pelo bom-mocismo virtuoso, mas comparada ao que se transformou nos últimos tempos, a vida dos políticos brasileiros antes da ditadura era quase austera.
Com a mudança da capital para Brasília, uma série de facilidades já tinha sido concedida aos parlamentares, a pretexto de serem necessárias à transferência: apartamentos funcionais, passagens de avião, entre outras.
Durante a ditadura a compostura desapareceu de vez, como resultado de um processo deliberado de domesticação do Congresso. De um lado, cassações, perda de prerrogativas, voto de liderança, decurso de prazo para aprovação de projetos do Executivo.
De outro, a contrapartida, até para tornar atraente a atividade parlamentar e encenar a mímica da normalidade democrática: gabinetes individuais, aumento das franquias postais e telefônicas, cotas de gasolina, possibilidade ilimitada de contratação de parentes e apaniguados, privilégios tributários, generoso plano de aposentadoria.
A ditadura foi gradativa e deliberadamente viciando a classe política brasileira. Como resultado, o Congresso se transformou num gato gordo e saciado, sem vontade nem agilidade para correr atrás dos camundongos de sua alçada.
Viciado nas pequenas e nas grandes corrupções.
E 24 anos depois da redemocratização, a degradação dos costumes da classe política brasileira só fez aumentar. Assim como a desfaçatez.
O mensalão foi a pá de cal num processo que já vinha de longe.
Hoje o mais ético dos deputados nem pensa em arcar com suas despesas de telefone e correio nem pagar aluguel a preços de mercado, como fazem seus eleitores. O mais ético dos senadores não recusa a cota de gasolina nem devolve as passagens de avião pagas com dinheiro público.
Nenhum deles vê o menor problema em existir um presidente do Senado que tinha suas contas pagas por um lobista. Ou um presidente do Senado que usa a segurança da casa para prestar serviços em sua residência particular. Nenhum deles sequer pisca quando empresta um telefone celular pago pelo Senado para a filha ir passear no exterior.
Não há CPI nem pressão da opinião pública que, sozinhos, possam dar início à correção dessa patologia. Isto tem que nascer como decisão dos próprios parlamentares de iniciar um tratamento de desintoxicação.
Não fazer isto é colocar a própria democracia em sério risco de overdose.
Overdose de corrupção. Pequena e grande.
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