quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

LUTAS E DESAFIOS EM 2008

Fábio Duarte

Professor de Filosofia (Campus de Palmas)

Secretário-Geral da SESDUFT



O contexto atual não nos permite ter uma visão otimista sobre a universidade brasileira, principalmente no que tange ao respeito ao docente. Após um ano em que o governo frustrou as nossas expectativas quanto à recomposição salarial, principalmente por não respeitar a decisão autônoma tomada nas Assembléias Gerais dos docentes, que decidiram rejeitar a proposta apresentada pelo governo. Este, ao contrário, assinou acordo com uma entidade chapa branca, o PROIFES – ou seja, o governo assinou o acordo consigo mesmo. A reunião do setor das IFES do ANDES-SN (ocorrida no dia 15/12/2007, em Brasília) confirmou a decisão das bases de rejeitar a proposta do governo, mas reafirmou a continuidade na negociação com o governo, negando assim o discurso de acusação do ANDES-SN, taxando-o de radical e intransigente, discurso propalado pelas entidades “correia de transmissão” do discurso governamental.

No Congresso do ANDES-SN, ocorrida em Goiânia, entre os dias 14 a 20 de janeiro de 2008, a base docente, na Plenária Final, já apontava para uma greve em função do desrespeito do governo. A diretoria do ABDES-SN apontou para reuniões dos docentes (em suas AGs) para discutir esta proposição. Esta expectativa de greve deve marcar este começo de semestre.

Um outro ponto, a nível nacional, diz respeito ao “pacote de abril” apresentado pelo governo no ano passado, destacando-se o REUNI. O governo apresentou a idéia de expansão das IFES através de recursos extras. Fica clara a concepção, no âmago do projeto, de um processo antes de massificação que de democratização do ensino superior. Na UFT, este discurso foi assimilado, colocando-se o REUNI como a única e derradeira forma de criação de novos cursos, o que garantiria a ampliação da UFT. A questão que fica é em relação ao cumprimento integral do programa tanto por parte do atual governo quanto ao próximo. Outra questão é que todos da academia têm claro que a universidade precisa ser reformada, mas precisava ser este projeto, que foi imposto a toque de caixa, em exíguo prazo para sua aceitação, sem que houvesse debates maias aprofundados, na medida em que suas conseqüências poderão ser nefastas para as universidades? O que se esconde através desta precipitação na aprovação nos Conselhos Universitários? Lembremos que ocorreram nas IFES conflitos quando da aprovação do REUNI, com a Polícia Federal servindo de guarda-costas para os reitores e, como conseqüência, ocorreu um processo de criminalização dos movimentos docente e estudantil promovido pelo governo. Aqui se ressentiu de um debate mais aprofundado. Um momento que poderia ser utilizado como profícuo debate sobre a nossa concepção de universidade transformou-se em mera assimilação do projeto do governo, via ANDIFES, com a desculpa simplista da única possibilidade de recursos extras e de expansão da universidade. Assim, furtou-se um momento de debate, que poderia ter sido crítico, esclarecedor e enriquecedor no âmbito da UFT, respeitando desta forma a inquietação que deveria ser a marca de uma vida acadêmica saudável.

No âmbito local, o fato mais importante será a eleição para reitor neste primeiro semestre. Isto se deve de que, apesar de nossos poucos anos, temos já uma segunda eleição e esperamos que seja uma ocasião de debates e confrontos de concepções sobre a universidade. Nesta perspectiva, algumas questões para provocar o debate deveriam ser postas à luz: concordamos com a instrumentalização da universidade para interesses políticos particulares ou partidários? Qual a relação da universidade com a sociedade civil e com os movimentos sociais, de cooperação ou de separação? Qual a nossa compreensão em relação à Fundação de Apoio (no nosso caso, a FAPTO) e sua relação com a UFT, tendo em vista os casos de corrupção que vicejam no país, tomando como referência, por exemplo, o caso da UnB e de sua fundaçãode apoio, a FINATEC? Qual a política de pós-graduação, a de cooperação entre universidade e a sociedade (com seus interesses) ou de subordinação ao mercado, ao agronegócio e à lógica produtivista? Qual a posição da universidade em relação ao desenvolvimento estadual? E nossa política de expansão, atenderá as necessidades acadêmicas e estruturais ou obedecerão às conveniências politiqueiras? Então, a questão principal: saberemos aproveitar este momento de debate amplo sobre a universidade que almejamos construir, concepção esta que possa vir a subsidiar a nossa intervenção no dia-a-dia?

Estes debates, a nosso ver, antes de se pensar em nomes de candidatos, são mais importantes para que tenhamos claro qual a concepção de universidade queremos consolidar nos próximos anos.

As questões levantadas têm o modesto fim de dialogar com aqueles que estão preocupados com a construção da UFT. Tenciona com aqueles que não se enclausuram no meramente acadêmico, mas que têm claro que a universidade deve ser espaço em que o acadêmico e o político (para ficar em duas dimensões) fecundam a discussão a fim de que tenhamos certeza dos rumos que seguiremos, com vista à socialização e democratização verdadeiras de um conhecimento crítico e qualificado construído em um espaço público e fecundo.





Fábio Duarte
(063) 3216-2303
(063) 9228-6309

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

I CONGRESSO MUNICIPAL DO PSOL DE PONTE ALTA

Convidamos a todos(as) psolistas para o seguinte evento partidário, quando será eleito o Diretório Municipal de Ponte Alta:

I CONGRESSO MUNICIPAL DO PSOL DE PONTE ALTA
CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE ALTA
24/FEVEREIRO/2008

09 h: ABERTURA
09h30: ANÁLISE DE CONJUNTURA
Paulo Henrique Mattos (Conjuntura Nacional e Estadual)
José Turíbio dos Santos (Conjuntura Municipal)
10h30:Os desafios do PSOL (Fábio Duarte)
11h: Apresentação da chapa e eleição do Diretório Municipal


Cordiais saudações socialistas e libertárias.

EXECUTIVA ESTADUAL DO PSOL-TO

Curso de Formação Política em Araguaína - dezembro de 2007





Curso de Formação Política em Araguaína - dezembro de 2007





domingo, 10 de fevereiro de 2008

A crise política do Fórum Social Mundial

Na avaliação do jornalista Ignácio Ramonet, o Fórum Social Mundial vive um momento de impasse político. Para ele, os movimentos sociais internacionais não conseguiram encontrar uma forma de articulação consistente capaz de enfrentar as atuais crises no mundo.

Marie Dominique Vernhes e Peter Strotmann - Freitag

Ignácio Ramonet é, desde 1991, redator-chefe do jornal Le Monde Diplomatique. Em 1997, participou da fundação do movimento internacional Attac (Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos). Foi um dos articuladores, em 2001, do primeiro Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. No dia 12 de janeiro deste ano, Ramonet participou do Simpósio Rosa Luxemburgo, em Berlim, fazendo uma conferência sobre o fracasso do chamado “quarto poder”. Entre outras coisas, defendeu maiores esforços na construção de meios de comunicação resistentes para o movimento anti-capitalista. Na ocasião, o jornalista concedeu uma entrevista para Marie Dominique Vernhes e Peter Strotmann, do semanário alemão de esquerda Freitag. A Carta Maior reproduz, em português, a íntegra dessa entrevista.

Nela, Ramonet faz uma análise da atual conjuntura internacional e reflete sobre a situação do Fórum Social Mundial neste contexto. Para ele, o processo FSM vive um momento de crise e impasse político. “Os movimentos sociais internacionais no momento têm sido incapazes de encontrar uma forma de articulação mais consistente que lhes permita agir de modo unitário. Não está em condições de fixar objetivos que sigam uma mesma linha”, afirma.

As organizações principais que constituem o Fórum Social Mundial, acrescenta Ramonet, estão obrigadas a se colocaram a seguinte pergunta: O que será de nós? O que devemos fazer? “Em torno de tudo isso, a questão do poder se torna importante. Todo o movimento se formou com a base na idéia que não se pode tomar o poder. Eu me pergunto se isso continua sendo verdadeiro. A experiência na América Latina mostra que com o poder nas mãos se pode fazer algo”. A seguir, a entrevista:

No Fórum Social Mundial de 2006, você disse que seria preciso fazer fracassar o projeto militar dos Estados Unidos. Isso seria necessário para criar uma margem de manobra suficiente, sem a qual todo progresso social e democrático resultaria vulnerável. Segue tendo a mesma opinião, dois anos depois?

Em princípio, sim. Por outro lado, agora surgem processos que já eram importantes em 2006 e que agora têm uma presença mais robusta ainda. Agora vemos mais claramente que estamos vivendo o fim da era do petróleo. Temos petróleo para, talvez, 40 ou 60 anos. Essa matéria prima alcançará no futuro um preço tal que só uns poucos países poderão se permitir manter uma matriz energética baseada no petróleo. Isso se converterá em uma questão estratégica, como se pode ver em anos passados. O domínio militar do mundo por parte dos EUA está determinado pelo controle do petróleo. É por isso que os EUA estão no Oriente Médio e na África, é por isso que estão em situação de hostilidade com Venezuela e Rússia. Existe o perigo de novas guerras futuras pelo petróleo.

Um segundo tema do qual já éramos conscientes é o da crise ecológica. As conseqüências da mudança climática são mais drásticas do que o previsto. Isso nos obriga a repensar radicalmente o tema do abastecimento energético, obviamente no sentido das energias renováveis, mas em alguns países também na direção da energia nuclear, com todos os perigos resultantes disso.

Como você avalia o ascenso espetacular de alguns países do Sul?

Índia e China não representam apenas uma boa terceira parte da população mundial. Se acrescentamos Brasil, África do Sul e Rússia, vemos que o peso econômico desse grupo de Estados como motor da economia mundial chega a ser maior que o dos EUA. Esses países estão em vias de dispor de fundos soberanos estatais que poderão colocá-los em situação de atuar sobre o próprio núcleo do processo de globalização. Em minha opinião, então, se colocará mais cedo do que tarde a questão de uma volta do protecionismo. Se países como China ou Índia, mas também Coréia do Sul, Malásia ou Indonésia se convertem na fábrica do mundo, apenas se poderá se seguir exportando algo ali, por mais que esses Estados representem as novas potências econômicas que poderiam comprar algo. O que acontecerá, então, com as indústrias dos países desenvolvidos do Ocidente?

Enfim, trata-se de um perigo que conhecemos há algum tempo, mas que nunca analisamos com a urgência com que agora se coloca com a quebra dos mercados de valores nos EUA. A crise hipotecária tem conseqüências para os grandes bancos norte-americanos, que agora tem que ser salvos com fundos estatais, sobretudo de países árabes.Considerando que também os bancos na Alemanha e na Suíça sejam afetados, coloca-se a questão de que se o que está a vista é uma recessão econômica mundial. China, Índia e outros países poderiam se converter no motor da economia mundial, se o motor dos EUA falhar? Se isso não ocorresse, estaríamos diante de uma crise econômica de alcance planetário.

Você também vê sintomas de decadência no potencial militar dos EUA?

Neste aspecto, os EUA ainda são o número um. Mas o Oriente Médio revela que seu poder militar não lhes garante ganhar guerras assimétricas: os EUA não conseguiram ganhar a guerra do Iraque. Talvez consigam manter-se no Iraque, mas essas coisas nunca se sabe como terminam. Os norte-americanos tampouco podem ganhar a guerra no Afeganistão. Israel não pode ganhar a guerra contra os palestinos, ao menos não militarmente, ainda que possam fazê-lo politicamente. O que se vê nessa região do mundo é que a superioridade militar não leva forçosamente à vitória militar.

O que isso significa?

Significa que os EUA não marcharão contra o Irã. Talvez bombardeiem o país, mas não o invadirão como fizeram no Iraque, com tropas terrestres. Significa também que os norte-americanos ficaram tão esgotados com todos esses conflitos que não poderão permitir-se por um certo tempo aventuras militares importante. Além disso, a Rússia está, outra vez, em vias de se converter em uma potência militar mundial relevante. Vemos, pois, que, do ponto de vista do equilíbrio militar, e sob uma ordem unipolar, está aparecendo de novo uma relação de forças multipolar.

Nestas circunstâncias, como podem seguir desenvolvendo-se os movimentos sociais e, em particular, que futuro aguarda os Fóruns Sociais Mundiais?

Infelizmente, os movimentos sociais internacionais no momento têm sido incapazes de encontrar uma forma de articulação mais consistente que lhes permita agir de modo unitário. Não está em condições de fixar objetivos que sigam uma mesma linha.

Isso impede os movimentos sociais de responder adequadamente à situação atual?

Exato. Atravessamos diferentes fases. A primeira consistiu em definir a globalização. Em meados dos anos 90, ainda não existia o movimento porque não se sabia contra quem lutar. Foi preciso que muitos intelectuais e muitas forças políticas definissem conjuntamente o inimigo e, o inimigo era a globalização. Na segunda fase se juntaram todos do Sul ao norte na luta contra a globalização. Têm-se evidentemente a impressão de que esses êxitos - particularmente, a fundação do Fórum Social Mundial - acabaram por paralisar o movimento. O movimento é hoje, potencialmente, forte, como nunca antes. É, em escala planetária, a única força em alguma medida organizada que resiste à globalização, mas ele não sabe o que fazer com essa força. Desperdiçaram-se oportunidades, ao menos eu vejo assim. Hoje estaríamos em condições de levar a cabo lutas em escala mundial. Lembre-se apenas das grandes manifestações contra a guerra no Iraque. Chegou a hora para que movimentos, como o Fórum Social Mundial, deixem de ser movimentos de resistência e entrarem em uma nova etapa com outras formas de luta.

Por que afirma isso com tanta ênfase?

A ofensiva ideológica da globalização prossegue. Constatamos que o movimento já não amedronta os dominadores. Apenas falam dele. Desde que a Attac entrou em crise na França, a imprensa francesa já não fala da Attac, tampouco fala do Fórum Social Mundial. Preocupa esse silêncio, porque demonstra que os outros têm vencido a batalha e, desde logo, por causa da dispersão. Por isso, creio que as organizações principais que constituem o Fórum Social Mundial estão obrigadas a se colocaram a seguinte pergunta: O que será de nós? O que devemos fazer? Em torno de tudo isso, a questão do poder se torna importante. Todo o movimento se formou com a base na idéia que não se pode tomar o poder. Eu me pergunto se isso continua sendo verdadeiro. A experiência na América Latina mostra que com o poder nas mãos se pode fazer algo. Isso na Europa é mais difícil devido a camisa de força que se transformou a União Européia.

Falar na América Latina hoje, queira-se ou não, significa falar no conceito de “Socialismo do século XXI”. É uma alternativa?

É, por enquanto, uma obra em construção. O próprio Hugo Chávez, que lançou esse conceito, não poderia oferecer uma definição do socialismo do século XXI, se alguém lhe perguntasse. O próprio Fidel Castro disse que o socialismo se acha em crise, o que faz com que haja distintas noções do mesmo. Ele é muito consciente disso, como pude comprovar em minhas conversas com ele.

Chávez está ciente do fato de que, em um processo de transformações políticas, chega um momento em que é preciso passar da prática à teoria. É exatamente o que fez Marx: o capitalismo já existia quando Marx definiu o que é o capitalismo. Já havia movimentos revolucionários quando Lenin elaborou teoricamente as observações sobre suas lutas, do mesmo modo que Marx fizera em relação à Comuna de Paris.

Chávez procede do mesmo modo: na América Latina o que impera hoje é sobretudo a vitalidade dos momentos de base, não a dos partidos políticos. Chávez não foi escolhido por um partido político (a social-democracia estava e segue estando contra ele). São as organizações de base com sua multiplicidade nos bairros ou não regiões, são homens e mulheres,são os indígenas com suas respectivas reivindicações. São eles que têm ajudado a triunfar personalidades como Chávez ou o novo presidente equatoriano Rafael Correa. Esse tipo de políticos vincula-se com os movimentos sociais, dando-lhes a possibilidade de ter audiência e de introduzir reformas, por exemplo, em áreas como educação e saúde. Mas chega um momento em que isso já não pode seguir sendo um instrumento estável. É preciso passar à teoria e perguntar: o que conservamos de todas essas experiências? O resultado é o Socialismo do século XXI.

Sobre o qual, contudo, não se sabe grande coisa....

...não necessariamente. Teríamos que olhar os dez anos até agora transcorridos da Revolução Bolivariana, assim como a situação mundial antes descrita, com seus aspectos ecológicos e energéticos. Como podemos elaborar conjuntamente todos esses elementos em um esquema teórico que não seja válido apenas para a Venezuela, mas para toda a humanidade. O resultado é, de novo, o Socialismo do Século XXI.

O processo no qual nos encontramos agora vai mais além da situação que tínhamos com o Subcomandante Marcos e os zapatistas no México. Marcos desempenhou um papel extremamente importante a ponto de convencer a muitos resistentes do mundo sobre a necessidade de se unir. Deu um impulso muito grande nesta direção, do mesmo modo que Pierre Bourdieu na França, Noam Chomsky, o movimento sindical, o Le Monde Diplomatique, o Attac. Mas chega um momento em que é preciso passar a uma nova fase. Quando a idéia de que os movimentos sociais são a única força que pode agir efetivamente torna-se um fetiche, então o movimento fica paralisado.

Você tem conversado muito com Fidel Castro e escreveu um livro que é resultado dessas conversas. Em sua opinião, que experiências cubanas deveria ser admitidas e quais deveriam ser evitadas?

Seria preciso evitar, em primeiro lugar, a confrontação com a primeira potência da Terra. Isso é, claro, dificílimo, mas quando alguém está exposto a um bloqueio dos EUA as restrições daí decorrentes tornam a vida muito difícil. Também seria preciso evitar que só um partido fosse permitido. Em troca, parece-me digna de imitação toda a política social. Mas não só ela: há uma política de constante consulta aos trabalhadores. Em Cuba, há pleno emprego. As cooperativas surgem com toda liberdade, especialmente no campo.

Cuba é um país muito pequeno que não está em condições de viver autarquicamente e que já padeceu, ao longo de sua história, de três dependências: primeiro da Espanha, depois dos EUA e mais tarde, ainda que de um modo distinto, da União Soviética. Eu creio que o que os cubanos querem é deixar de ser dependentes. Aqueles que falam agora de uma dependência em relação a Venezuela passam por alto que se trata de uma relação de natureza muito diferente. Porque o que os cubanos podem oferecer em troca é muito importante. Ainda que não se possa quantificar em termos petrolíferos, é um fator de grande importância. Graças aos professores cubanos, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela. Veja você, em troca, o que ocorreu na Nicarágua, onde houve, sob os sandinistas, uma importante campanha de alfabetização: o analfabetismo reapareceu e, hoje, 35% das pessoas são analfabetas. Isso é dramático.

Assim, uma boa quantidade de experiências cubanas merece ser conservada e creio que os próprios cubanos querem manter muito do que os faz únicos. Mas neste país há uma sociedade muito complexa, não monolítica. Um partido único não está em condições de representar a multiplicidade de aspirações dos cubanos.

Castro disse que essa multiplicidade pode encontrar lugar no partido único...

É verdade, mas o que diz, sobretudo, é que em um país ameaçado pela primeira potência mundial a unidade é o fator mais importante a conservar. Por isso é tão elementar que essa ameaça deve cessar. No dia que acabar, haverá progressos no reconhecimento da pluralidade da sociedade cubana. Fala-se muito do modelo chinês, mas os cubanos miram-se também no espelho do que ocorre no Vietnã.

A entrevista foi publicada, em espanhol, em Sinpermiso
(Tradução de Amaranta Süss)
Tradução do espanhol para português: Marco Aurélio Weissheimer

Fonte: http://www.agenciacartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14796

Os professores do Tocantins exigem respeito

Paulo Henrique Costa Mattos
É professor de História e Geografia em Gurupi, no CEM Bom Jesus
phcmattos@ibest.com.br

(artigo publicado em janeiro em: Portal Cleber Toledo, Jornal do Tocantins, Conexão Tocantins, Jornal Atidude, Fatos e Fotos)

Os professores da Rede Pública Estadual do Estado do Tocantins foram pegos de surpresa, antes do início do semestre de 2008, com uma Reforma Educacional imposta pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc), através da Instrução Normativa Nº 08 de 28 de dezembro de 2007, que publicou medidas de mudanças na estrutura curricular e carga horária dos professores, dentre outras, de forma totalmente autoritária, sem qualquer tipo de discussão prévia ou debate com a categoria dos professores.

As mudanças pretendidas foram elaboradas pela Seduc no final do ano de 2007 e aprovadas na calada da noite pelo Conselho Estadual de Educação (CEE), através da resolução de nº. 127/2007, sem nenhum debate com os educadores, sem ouvir a opinião sequer dos dirigentes das Escolas da rede estadual, mesmo sendo evidente as profundas mudança nas unidades escolares e na educação como um todo do Estado do Tocantins.

O autoritarismo, o excessivo centralismo da Seduc, os profundos impactos e possíveis prejuízos à vida funcional dos trabalhadores da Educação foram evidenciados dentre outras mudanças nas seguintes propostas:

- Ampliação da hora-aula de 48 minutos para 60 minutos;
- Ampliação de nove horas semanais na jornada de trabalho dos professores do Ensino Médio;
- Mudança do nº de aulas por disciplinas, reduzindo algumas, como por exemplo: geografia, história, artes, filosofia, sociologia, inglês;
- Ampliação do tempo de permanência do aluno do ensino fundamental e ensino médio noturno em 1 ano;
- Supressão de disciplinas em determinadas séries como, por exemplo: ensino religioso, arte, língua estrangeira, filosofia e sociologia;
- Mudanças no quadro administrativo e pedagógico das unidades de ensino;
- Instituição da 4ª serie noturna, com redução das horas aulas de 23:15 para 22:15 porém com aulas aos sábados.

Apesar do Sintet sofrer hoje inúmeras debilidades organizativas ainda soube buscar negociação com a Seduc tentando, dessa forma, definir uma alternativa que garantisse os direitos dos trabalhadores (as) da Educação, dos educandos e de uma educação de qualidade e um processo democrático na implementação das decisões da Reforma Educacional.

Nosso Sindicato apresentou 3 propostas à Seduc: 1º) que na semana de 21 a 25 de janeiro de 2008, as aulas fossem suspensas para que a própria Seduc esclarecesse aos servidores e ao seu corpo administrativo as propostas de alteração, ao tempo em que o Sintet, debateria com os trabalhadores a viabilidade, ou não, das alterações; 2º) que fosse adiada para 2009 a implantação das medidas e durante o ano de 2008 debatidas e construída coletivamente uma proposta final.

Após três reuniões do Sintet com a Seduc, as reivindicações dos professores não foram atendidas e a Sra. Secretária de Educação Maria Auxiliadora Seabra Rezende decidiu propor às Escolas que “optassem” pela imediata implementação das mudanças ou que as implementassem apenas no período noturno e ficasse o período diurno com a mesma estrutura de 2007, adiando as mudanças para o início do próximo ano. Mas apesar do apoio maciço das Direções Escolares o Sintet e os professores continuaram dizendo não e se mobilizando. Isso obrigou a Secretaria de Educação a recuar com as medidas autoritárias, até porque esse é um ano eleitoral e com certeza os prejuízos eleitorais seriam grandes ao governo Marcelo Miranda.

Depois de fazer a Secretária recuar em suas medidas autoritárias é preciso que os professores da rede pública estadual fiquem atentos e mobilizados para não caírem no engodo de que as novas estruturas curriculares e horas atividade a serem cumpridas em 2009 serão benéficas ao professor “com um ganho de mais de 70% em relação ao que se tem hoje”. Essa é uma das mentiras que precisam ser desmascaradas na proposta que irá ser implementada em 2009, pois com aulas de sessenta minutos nós passaremos a trabalhar 8 horas a mais por semana. Será preciso que os professores da rede pública estadual superem suas dificuldades organizativas, as fragilidades do Sintet e busquem se preparar, inclusive com propostas claras e alternativas, ao que será reapresentado pela Seduc em 2009. Será preciso fortalecer o Sintet, criar uma política de comunicação permanente, investir em formação política, criar mecanismos ágeis de mobilização e preparar-se para um duro embate no início de 2009.

Também será preciso alertar e deixar claro a Sociedade Tocantinense que os prejuízos educacionais provocados pelas medidas da Reforma Educacional pretendidas, poderão atingir principalmente os filhos dos trabalhadores, os mais pobres e aqueles que precisam da escola pública, gratuita, de qualidade, principalmente a do período noturno. Serão os trabalhadores e seus filhos os mais atingidos com a Reforma doidivanas apresentada.

Os educadores tocantinenses tem que estar organizados e preparados para dizer que não aceitaremos que em nome de uma suposta “melhoria na qualidade do ensino” e “em virtude de necessidades legais e emergentes” haja a extinção de disciplinas como Redação e Artes, redução de horas aulas de Biologia, História, Geografia, Inglês, Sociologia e Filosofia, ampliação da jornada de trabalho sem reajuste salarial, aulas aos sábados, diminuição de modulação de trabalho de professores, falta de transparência e democracia nas decisões que afetam toda a Comunidade Escolar e Sociedade em geral. Se a Educação do Tocantins hoje é considerada a última colocada na classificação da Avaliação do Exame Nacional Ensino Médio não é culpa dos professores, mas daqueles que são responsáveis por sua administração. Basta de autoritarismo e desrespeito!