Fábio Duarte
Professor de Filosofia (Campus de Palmas)
Secretário-Geral da SESDUFT
O contexto atual não nos permite ter uma visão otimista sobre a universidade brasileira, principalmente no que tange ao respeito ao docente. Após um ano em que o governo frustrou as nossas expectativas quanto à recomposição salarial, principalmente por não respeitar a decisão autônoma tomada nas Assembléias Gerais dos docentes, que decidiram rejeitar a proposta apresentada pelo governo. Este, ao contrário, assinou acordo com uma entidade chapa branca, o PROIFES – ou seja, o governo assinou o acordo consigo mesmo. A reunião do setor das IFES do ANDES-SN (ocorrida no dia 15/12/2007, em Brasília) confirmou a decisão das bases de rejeitar a proposta do governo, mas reafirmou a continuidade na negociação com o governo, negando assim o discurso de acusação do ANDES-SN, taxando-o de radical e intransigente, discurso propalado pelas entidades “correia de transmissão” do discurso governamental.
No Congresso do ANDES-SN, ocorrida em Goiânia, entre os dias 14 a 20 de janeiro de 2008, a base docente, na Plenária Final, já apontava para uma greve em função do desrespeito do governo. A diretoria do ABDES-SN apontou para reuniões dos docentes (em suas AGs) para discutir esta proposição. Esta expectativa de greve deve marcar este começo de semestre.
Um outro ponto, a nível nacional, diz respeito ao “pacote de abril” apresentado pelo governo no ano passado, destacando-se o REUNI. O governo apresentou a idéia de expansão das IFES através de recursos extras. Fica clara a concepção, no âmago do projeto, de um processo antes de massificação que de democratização do ensino superior. Na UFT, este discurso foi assimilado, colocando-se o REUNI como a única e derradeira forma de criação de novos cursos, o que garantiria a ampliação da UFT. A questão que fica é em relação ao cumprimento integral do programa tanto por parte do atual governo quanto ao próximo. Outra questão é que todos da academia têm claro que a universidade precisa ser reformada, mas precisava ser este projeto, que foi imposto a toque de caixa, em exíguo prazo para sua aceitação, sem que houvesse debates maias aprofundados, na medida em que suas conseqüências poderão ser nefastas para as universidades? O que se esconde através desta precipitação na aprovação nos Conselhos Universitários? Lembremos que ocorreram nas IFES conflitos quando da aprovação do REUNI, com a Polícia Federal servindo de guarda-costas para os reitores e, como conseqüência, ocorreu um processo de criminalização dos movimentos docente e estudantil promovido pelo governo. Aqui se ressentiu de um debate mais aprofundado. Um momento que poderia ser utilizado como profícuo debate sobre a nossa concepção de universidade transformou-se em mera assimilação do projeto do governo, via ANDIFES, com a desculpa simplista da única possibilidade de recursos extras e de expansão da universidade. Assim, furtou-se um momento de debate, que poderia ter sido crítico, esclarecedor e enriquecedor no âmbito da UFT, respeitando desta forma a inquietação que deveria ser a marca de uma vida acadêmica saudável.
No âmbito local, o fato mais importante será a eleição para reitor neste primeiro semestre. Isto se deve de que, apesar de nossos poucos anos, temos já uma segunda eleição e esperamos que seja uma ocasião de debates e confrontos de concepções sobre a universidade. Nesta perspectiva, algumas questões para provocar o debate deveriam ser postas à luz: concordamos com a instrumentalização da universidade para interesses políticos particulares ou partidários? Qual a relação da universidade com a sociedade civil e com os movimentos sociais, de cooperação ou de separação? Qual a nossa compreensão em relação à Fundação de Apoio (no nosso caso, a FAPTO) e sua relação com a UFT, tendo em vista os casos de corrupção que vicejam no país, tomando como referência, por exemplo, o caso da UnB e de sua fundaçãode apoio, a FINATEC? Qual a política de pós-graduação, a de cooperação entre universidade e a sociedade (com seus interesses) ou de subordinação ao mercado, ao agronegócio e à lógica produtivista? Qual a posição da universidade em relação ao desenvolvimento estadual? E nossa política de expansão, atenderá as necessidades acadêmicas e estruturais ou obedecerão às conveniências politiqueiras? Então, a questão principal: saberemos aproveitar este momento de debate amplo sobre a universidade que almejamos construir, concepção esta que possa vir a subsidiar a nossa intervenção no dia-a-dia?
Estes debates, a nosso ver, antes de se pensar em nomes de candidatos, são mais importantes para que tenhamos claro qual a concepção de universidade queremos consolidar nos próximos anos.
As questões levantadas têm o modesto fim de dialogar com aqueles que estão preocupados com a construção da UFT. Tenciona com aqueles que não se enclausuram no meramente acadêmico, mas que têm claro que a universidade deve ser espaço em que o acadêmico e o político (para ficar em duas dimensões) fecundam a discussão a fim de que tenhamos certeza dos rumos que seguiremos, com vista à socialização e democratização verdadeiras de um conhecimento crítico e qualificado construído em um espaço público e fecundo.
Fábio Duarte
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