Por Fabiana Leal
Direto de Porto Alegre
O Psol levantou nove suspeitas contra o governo Yeda Crusius (PSDB), do Rio Grande do Sul, em uma coletiva nesta tarde em Porto Alegre. Os membros do partido não apresentaram provas, mas garantiram que áudios, vídeos e depoimentos, que estariam sendo analisados pelo Ministério Público Federal (MPF), apontariam que há uma "quadrilha" dentro do Palácio Piratini, que se utilizou de caixa 2 para chegar ao poder e que utiliza verbas públicas para satisfazer interesses particulares. A força-tarefa do MPF responsável pela Operação Rodin, no entanto, negou as informações.
"Temos a convicção de que há uma verdadeira quadrilha instalada no Palácio Piratini. E essa quadrilha precisa ser desmarcarada. Sabemos que tanto o Lair Ferst (um dos coordenadores da campanha de Yeda e réu na Operação Rodin, que apura fraudes no Detran-RS), quanto o Marcelo (Cavalcante) estavam trazendo informações relevantes ao Ministério Público", disse a deputada federal Luciana Genro (Psol-RS). Além de Luciana, participaram da coletiva o vereador de Porto Alegre Pedro Ruas e o presidente estadual do Psol, Roberto Robaina.
O corpo de Cavalcante, ex-chefe da Representação do Estado em Brasília e ex-chefe de gabinete de Yeda quando ela era deputada federal, foi encontrado na última terça-feira no lago Paranoá, próximo à ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília. De acordo com os Bombeiros, o carro de Cavalcante foi localizado por parentes na noite de domingo, próximo à ponte. Ele prestaria depoimento ao MPF no dia 5 de março, segundo a deputada.
"Essa morte misteriosa nos obrigou a compartilhar com a sociedade informações que nós viemos pesquisando, investigando e obtendo há cerca de dois anos. O Psol foi autor da peça de impeachment contra Yeda, entrou também com uma representação no Ministério Público de Contas contra a governadora e fizemos isso porque vínhamos investigando e recebendo uma série de informações que são muito graves e importantes. No momento que uma testemunha importante de todos esses eventos que vêm acontecendo no Estado morre, nós nos sentimos na obrigação de trazer à tona essas informações", disse Luciana.
MPF negaDe Brasília, o procurador Adriano Haudi informou que o Psol não teve acesso ao inquérito. Ele também negou que tenha provas de corrupção do governo ou que Lair e Cavalcante tivessem negociado uma delação premiada. Já o governo do Estado informou que, se um procurador já desmentiu a informação do Psol, "não teria por que se manifestar sobre o assunto".
Confira os oito eventos citados pelo Psol para justificar que a corrupção estaria instalada no Palácio Piratini:
- A empresa Mac Engenharia teria repassado R$ 500 mil à campanha de Yeda. Estariam presentes na reunião, no final de 2006, Chico Fraga, Aod Cunha, Rubens Bordini, Delson Martini, Carlos Crusius, marido da governadora, Lair Ferst e Marcelo Cavalcante. Ruas disse que há áudio e vídeo dessa reunião, gravados por Lair Ferst.
- Duas parcelas de R$ 200 mil teriam sido recebidas de fumageiras de Santa Cruz e Venâncio Aires. Nessa reunião, em 2006, segundo Luciana, estariam presentes Aod e Lair que, na conversa, teria enfatizado que não poderia dar recibo a pedido da governadora, na época, candidata. Essa conversa também teria sido gravada em áudio e vídeo.
- Conversa em que a governadora negociaria a repartição do dinheiro oriundo da corrupção do Detran. Segundo Luciana, teria sido oferecido à governadora R$ 100 mil mensais pelo esquema "e ela diz que não se levanta da cadeira por R$ 100 mil". O fato teria sido relatado no depoimento de Lair como parte da delação premiada e haveria testemunhas do diálogo, segundo Ruas.
- O deputado José Otávio Germano teria entregue R$ 400 mil para a campanha de Yeda. Esse dinheiro seria fruto de caixa 2. Segundo o Psol, ele teria afirmado que entregou o dinheiro para conseguir um crédito político com a governadora. Estariam presentes na reunião, em 2006, segundo Luciana, Lair, a candidata e Marcelo Cavalcante. A conversa teria sido gravada em áudio e vídeo.
- Lair e um corretor chamado Albert falariam de toda a formatação da compra da casa de Yeda em um vídeo. "Ele é muito detalhado, muito explícito. Pega da primeira a última palavra da conversa", disse Ruas. No vídeo, segundo ele, aparece a entrega do dinheiro vivo
- Entrega de mensalinhos para várias pessoas que seria feita por Valna, secretária de Yeda, e por Delson Martini. Estariam presentes Lair Ferst e Marcelo Cavalcante. Esse episódio, em 2007, teria sido gravado em áudio e vídeo.
- Humberto Busnello teria entregue R$ 100 mil de caixa 2 para Aod Cunha, na presença de Lair, durante a campanha. O evento também teria sido gravado em áudio e vídeo.
- Longa explanação de contas particulares de várias pessoas, inclusive da governadora, feito por agências de publicidade a pedido dela. Tudo teria sido feito na presença de Lair e de Marcelo Cavalcante. Também haveria vídeo e áudio.
-Diálogo sobre reforma feita na casa da governadora pela Magna Engenharia. Esse diálogo teria acontecido na presença de Lair e teria sido gravado em áudio e vídeo. Lair negociaria a reforma e o pagamento que, segundo Ruas, não seria feito pela governadora.
Ruas disse que a apresentação das gravações feitas por Lair Ferst tinham o objetivo de protegê-lo. "Elas (gravações) têm um longo tempo sendo realizadas e elas totalizam de provas úteis oito horas. Houve um momento que o Lair não tinha mais credibilidade. Tanto ia fazer delação premiada como não ia. E em algum outro momento que ele resolve mesmo fazer. Aí ficou difícil os procuradores da República aceitarem isso, porque ele já tinha ido e vindo tantas vezes. Então, ele mostrou isso. Isso ninguém tinha. Ninguém sabia que existia. Isso sequer a governadora sabia que existia. Essa era a moeda de troca. Era muito alta. Essas são provas irrefutáveis e muito fortes", afirmou Ruas.
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