Paulo Henrique Costa Mattos, professor de Sociologia e Antropologia da UNIRG.
Tristes tempos esse em que vivemos. Tempo em que assistimos o fim de muitas ideologias, disseminação do ódio, da violência e da destruição ambiental com discursos que escondem mentiras com belas palavras. Uma delas é a de que agronegócio significa desenvolvimento, progresso e desenvolvimento. A verdade nua e crua é que agronegócio significa morte, queimada, derrubada, monocultura, destruição da natureza, concentração de terras, trabalho escravo e violência.
A violência é a face mais perversa e escamoteada do agronegócio, mas ela se encontra por todos os lados. O desmatamento na Amazônia é uma delas. Desmatar significava beneficiar, valorizar a área, reconcentrar a terra, expulsar posseiros, matar, garantir o poder de madereiros, fazendeiros gananciosos e grupos capitalistas que só pensam no lucro imediato.
Essa turma da pesada, simplesmente manda derrubar a mata em larga escala para supostamente “beneficiar” a terra com a finalidade de conseguir vultosos créditos de bancos que favorecem o “desenvolvimento”. Mas que desenvolvimento, o do bolso deles é claro, porque o resto é só destruição e morte. E essas duas palavrinhas terríveis não significam desenvolvimento em lugar algum, muito menos na Amazônia!!
No festival de canalhices do governo Lula, talvez a pior delas depois do mar de corrupção, a pior delas seja a destruição impune da Amazônia pelos grandes fazendeiros, as madeireiras, pecuaristas, sojeiros, garimpeiros e outras pragas de cupins humanos que na sua ganância e boçalidade não tem limites, mais ainda são considerados “heróis” por Lula, que recentemente assim chamou os grandes capitães do malévolo agronegócio.
A tragédia que se abate sobre a Amazônia tem cheiro de fumaça, gosto de sangue e barulho de motosserras. O levantamento do INPE prova isso. De agosto a dezembro de 2007, esse Instituto de Pesquisa detectou a derrubada de 3.233 quilômetros quadrados de floresta, dos quais 1.922 quilômetros quadrados em novembro e dezembro, quando normalmente não há desmate por causa das chuvas.
Do jeito que as coisas estão evoluindo em 2030 a metade da selva tropical da Amazônia terá sucumbido à agressão inescrupulosa do homem. Isso é algo terrível, é o prenúncio de uma situação apocalíptica, um verdadeiro genocídio contra a humanidade, um ato criminoso que já merece um tribunal internacional para punir os genocídas. Enquanto isso a pátria mãe tão distraída continua se divertindo na assistência do Big Brother e no alegre fanck do creu, sem perceber que já estamos no limite da insustentabilidade e que em breve não haverá volta.
A leniência do governo federal com toda essa situação chega a dar dó, tamanha a incompetência, o descaso e a postura de Geni que assume. Sim, o governo Lula parece com a Geni da música de Chico Buarque, pois longe de conseguir ter uma postura de poder efetivo e destinar os recursos financeiros para o desempenho adequado de suas atribuições na Amazônia, virou uma vaca louca que é desrespeitada por todos. A pobre ministra Marina Silva me lembra um daqueles zumbis de filmes de terror, magérrima, símbolo vivo da desnutrição da pasta que ocupa e refém das forças do agronegócio que todos os dias tripudia sobre o governo, sobre sua pasta, jogando bosta na suposta autoridade do ex-operário presidente.
A violência do agronegócio na Amazônia é a mesma que se espalha em todo o Brasil. Do Nordeste, Centro-Oeste ao Sul, como tantas vezes destaquei nos meus artigos e análises de conjuntura. No Sul, assiste-se à expansão desmedida do agronegócio da celulose, eucalipto e pínus avançam sem limites legais ou ambientais, destruindo e ameaçando os biomas regionais. No Nordeste, a transposição do São Francisco, que antes de tudo atende aos interesses maiores do capital exportador parece ser irreversível. No Centro-Oeste, a devastação assombrosa causada pela cana-de-açúcar, pela soja e pelo gado. Não há saída e parece que infelizmente o império do mal venceu. Todos aqueles que ainda têm disposição e coragem de lutar contra toda essa devastação ficam pregando no deserto, que ainda é metafórico, mas em breve será real.
O agronegócio imprime a sua dinâmica devastadora em todo o território nacional. Trata-se de um capital forte economicamente e politicamente. Economicamente articula-se com grupos transnacionais, suas cadeias produtivas estão voltadas para fora do país. Tornamo-nos um exportador de commodities ameaçando a soberania alimentar interna. Politicamente o agronegócio esbanja poder. Controla setores importantes do governo Lula e possui a maior bancada no Congresso Nacional. O mesmo Congresso onde atuam os Ali Babás parlamentares mais caros do planeta, cujo minuto de trabalho custa R$ a bagatela de R$ 11.300,00 reais aos cofres públicos.
Desde o Brasil República, são as oligarquias rurais que nomeiam os ministros da agricultura. No governo Lula foi diferente. Um dos maiores lobistas do agronegócio está entrincheirado dentro do governo. Ocupa um ministério. Trata-se de Reinhold Stephanes, atual ministro da agricultura. O lobista que age a serviço dos pecuaristas, produtores de cana, fazendeiros, sojeiros e empresas da área da biotecnologia. Um lobista profissional que se utiliza da função de ministro de Estado para defender com unhas e dentes os interesses do grande capital rural.
Reinhold Stephanes, o lobista ministro, ou o ministro lobista, atuou de forma escancarada para aprovar o milho transgênico da Monsanto e da Bayer, defendeu seu colega latifundiário e governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, conhecido como o rei da soja contra as acusações de desmatamento e, ainda mais, faz lobby junto com a bancada ruralista, liderada pela Senadora Kátia Abreu, para mudar a legislação do desmatamento e esquartejar a Amazônia Legal, liberando geral para o agronegócio a destruição do patrimônio ambiental.
Que Deus tenha piedade de todos nós, pois como diz uma frase do povo Karajá, “o homem branco só vai perceber que dinheiro não se come, quando destruir a última floresta, matar o último animal e contaminar o último rio”. Mas aí talvez seja tarde demais!!
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